“Para promover o avanço das pessoas negras, é crucial abandonar a busca por talentos dentro dos parâmetros convencionais”, afirma Denise Silva, gerente de Equidade Racial do Vetor Brasil, em encontro na Unifesp
No último dia 05 de junho, ocorreu o Terceiro Encontro dos Profissionais de Gestão de Pessoas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com o tema “Desenvolvendo a visão estratégica na gestão de pessoas nas organizações públicas”. O evento, transmitido pelo Canal da ProPessoas no YouTube, contou com a participação de profissionais renomados no campo de desenvolvimento humano, incluindo Denise Silva, gerente de Equidade Racial do Vetor Brasil, que falou sobre diversidade no setor público.
Denise Silva, psicóloga de formação, iniciou sua fala compartilhando um pouco de sua trajetória profissional, que está profundamente imersa na gestão de pessoas. Ela ressaltou a importância de olhar para o indivíduo além das palavras e questionar o que está por trás das interações no ambiente de trabalho. Desde cedo, Denise desenvolveu a curiosidade de compreender as pessoas e seus comportamentos no ambiente de trabalho. Com esse interesse, ela se formou em psicologia e direcionou sua carreira para o desenvolvimento organizacional, com um foco especial em diversidade e inclusão.
Ao longo de sua jornada, Denise teve a oportunidade de trabalhar em diferentes ambientes, como indústrias, hospitais e consultorias. Em cada um deles, enfrentou desafios específicos, mas sempre com o propósito de cuidar e desenvolver as pessoas. Ela destacou a importância do teatro como uma ferramenta surpreendente para ajudar as pessoas a se expressarem e se posicionarem no ambiente de trabalho em uma de suas atuações.
Atualmente, como gerente de diversidade e inclusão no Vetor Brasil, Denise tem como missão desenvolver programas para o setor público, com foco na equidade racial. Ela explicou que o Vetor Brasil é uma organização que acredita no desenvolvimento de pessoas como forma de promover mudanças reais nos governos. A instituição atua diretamente com profissionais, realizando criando programas de atração, seleção e alocação inclusivos e preparando para atuação no setor público.
Representatividade no setor público
“Um dos pontos que merece destaque quando se busca uma gestão pública mais efetiva e representativa é o investimento em pessoas, em diversidade”, ressalta Denise. Ela enfatizou a necessidade de dedicar recursos significativos para alcançar esse objetivo. “Infelizmente, no âmbito do poder público, não observamos uma proporção equitativa de pessoas negras como responsáveis por tomar decisões”, lamenta. Foi a partir dessa lacuna que o Vetor Brasil decidiu criar e implementar dois programas com foco na questão racial no setor público, o Ubuntu e o LídER+ D, com resultados expressivos no desenvolvimento de lideranças negras. Denise detalhou a proposta de cada um dos projetos que são oferecidos gratuitamente para os participantes.
A especialista mencionou que o Vetor Brasil também faz o dever de casa. Formação em letramento racial e outras políticas são estabelecidas para a gestão de pessoas, antes de implementar suas iniciativas no setor público. A organização aplica suas práticas nos times internos.
Denise ressaltou a importância da representatividade no setor público, destacando que a jornada do profissional negro muitas vezes é marcada por desafios, superações e solidão resultado do racismo estrutural. Ela compartilhou sua própria história, influenciada pela trajetória de sua mãe cortadora de cana que mais tarde, se formou em auxiliar de enfermagem, que superou muitos obstáculos e possibilitou que Denise pudesse avançar em sua carreira.
“Para promover o avanço das pessoas negras no setor público, é crucial abandonar a busca por talentos dentro dos parâmetros convencionais”, afirma Denise. Segundo ela, é necessário repensar e reformular os critérios utilizados na avaliação dos profissionais, a fim de romper com os padrões discriminatórios presentes no ambiente corporativo. Ela ressaltou que não se trata de diminuir as expectativas ou baixar os padrões, ou no jargão “baixar a régua”, como frequentemente se argumenta no mercado ao justificar a falta de profissionais negros em processos seletivos, é preciso mudar a régua.
“Estamos falando de reconhecer e valorizar habilidades e competências de maneira mais ampla, levando em consideração diferentes perspectivas e trajetórias. Essa mudança de paradigma é essencial para garantir a inclusão e o progresso das lideranças negras, permitindo que seu potencial seja plenamente aproveitado e valorizado”, enfatiza Denise.
Denise também abordou o processo de fusão entre o Vetor Brasil e o Instituto Gesto, com o objetivo de ampliar o impacto e fortalecer o setor público e o quanto ambas organizações estão focadas e determinadas nessa missão.